sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Balé da Bola: Taça Brasil 1959


- Os primeiros campeões nacionais! (Pra todo mundo, menos a torcida do Galo!). Time campeão no Maraca: Em pé: Nadinho, Leone, Henrique, Flávio, Vicente e Beto. Agachados: Marito, Alencar, Léo, Bombeiro e Biriba.


Vou tentar toda semana falar de uma edição do campeonato brasileiro do ponto de vista do campeão, mas tentarei dar um panorama geral sobre a competição, falando um pouco de todos os times.

Começarei da Taça Brasil de 1959, que foi a primeira tentativa de se fazer um Campeonato Nacional de futebol aqui no Brasil. Até aquela época, os campeonatos estaduais eram o grande filão, o título mais importante para um clube dentro do ano. Esta preferência de dirigentes, jogadores e torcida começaria a mudar nos anos 70 com o início da consolidação do formato atual do Campeonato Brasileiro. Mas em 1959 a Taça Brasil foi criada pela antiga CBD com o objetivo de dar uma vaga para recém-criada Taça Libertadores para o campeão. Irônico, se não fosse a Libertadores não teríamos uma competição nacional...

Naquela época, Juscelino Kubitschek era o presidente do Brasil, Cuba fez a sua revolução socalista, nossa moeda ainda era o cruzeiro, o Fusca era um ainda era um carro novo, Gugu e Otávio Mesquita nasciam, a mulher mais gostosa era Marilyn Monroe e por último, mas não menos importante: a existência do Estado da Guanabara, que era a cidade do Rio de Janeiro separada do resto do Estado do Rio. Ou seja, 1959 já faz muuuuito tempo...

Os particpantes deste torneio tinham de ser necessariamente campeões estaduais. ABC (RN), Atlético-MG, Atlético-PR, o famoso Auto Esporte Clube (PB), Bahia, Ceará, CSA (AL), Ferroviário (MA), Grêmio, Hercílio Luz (SC), o Manufatora, de Niterói (o campeão do Estado do Rio), Rio Branco (ES), Sport, Tuna Luso (PA), Santos e Vasco da Gama (campeão do Estado da Guanabara) foram os 16 clubes que participaram da primeira Taça Brasil.

Pouco achei na Internet textos falando sobre a campanha do Bahia, o time campeão de forma detalhada. Mas o tricolor bahiano sofreu pra ser campeão, pois enquanto os campeões de São Paulo (Santos) e da Guanabara (Vasco) só jogariam nas semifinais, o Bahia teve de ser campeão da Zona Norte (os campeões estaduais do Nordeste e Norte do Brasil) para chegar as semifinais.

Passou pelo Ceará nas semifinais do Grupo 1 ganhando os dois jogos do CSA por 5 a 0 e 2 a 0 e na final empatou os dois jogos da final do grupo por 0 a 0 em Fortaleza e 2 a 2. Como naquela época não tinha disputa de pênaltis nem gol qualificado como critério de desempate e muito menos TV pra inventar esse tipo de regulamento, Bahia e Ceará jogaram o jogo-desempate inexplicavelmente em Salvador... Desde aquela época, o futebol brasileiro já era uma zona... Em Salvador o Bahia ganhou de 2 a 1 e enfim se classificou para a decisão da Zona Norte contra o Sport, que venceu o Grupo 2. Em Salvador, no jogo 1, Bahia 3 a 2. No segundo jogo, na Ilha do Retiro o Sport meteu 6 a 0 no tricolor bahiano. Sport campeão, certo? Nada! Como naquela época o regulamento sequer previa desempate por saldo de gols, Bahia e Sport fizeram o jogo 3 em Recife. Deu Bahia 2 a 0.

Nas semifinais gerais do torneio, além do Bahia estavam Grêmio (vencedor da Zona Sul, com times do Sudeste e Sul), Vasco e Santos. O Bahia encarou o Vasco, hipercampeão carioca, que havia derrotado o Flamengo de Fleitas Solich e Dida na Final. O Vasco tinha dois campeões mundiais como titulares na zaga (Bellini e Orlando), além do polêmico Almir Penambuquinho, um dos primeiros grandes bad boys do futebol brasileiro. No Rio, o Bahia surpreendeu e ganhou de 1 a 0. Na volta, deu Vasco em Salvador, 2 a 1. No jogo desempate, o Bahia ganhou de 1 a 0 em Salvador e chegou a final.

Na final, os bahianos enfrentariam o poderoso Santos de Dorval, Mengálvio, Pelé e Pepe. Neste verdadeiro duelo entre Davi e Golias, no primeiro jogo na Vila Belmiro deu Bahia! Com gols de Biriba e Alencar (2), o Bahia ganhou de virada: de 2 a 0 para 3 a 2 (o Santos ganhou com gols de Pelé e Pepe). Na Fonte Nova, porém, o Santos deu o troco e ganhou por 2 a 0, com uma grande atuação de (Oh!) Pelé. Com uma vitória de cada lado houve a necessidade do jogo-desempate no Maraca, pois a diretoria do Santos não queria jogar o jogo-desempate em Salvador, como estava previsto no regulamento. Como o segundo jogo foi em 30 de dezembro de 1959 e o Santos já havia marcado uma excursão para depois do jogo 2 o Bahia pediu e foi atendido: o jogo 3 da Taça Brasil de 1959 seria decidido em 6 de março de 1960, no Maior do Mundo. O Bahia ainda trocou de técnico antes da decisão: Carlos Volante entrou no lugar de Geninho (não é esse que treina atualmente o Náutico).

Num jogo extremamente disputado, com quatro expulsões (3 no Santos e 1 no Bahia), o Bahia surpreendeu o Brasil e o mundo ganhando do Santos de 3 a 1, com gols de Vicente, Léo (o artilheiro da competição com 8 gols) e Alencar. Coutinho (um dos expulsos, junto com Formiga, Getúlio e Vicente do Bahia) abriu o placar para o alvinegro santista. O Santos pagou pela arrogância ao mandar telegramas antes da final agendando jogos contra o San Lorenzo na Libertadores e teve de engolir o Bahia campeão da primeira Taça Brasil. Parabéns, Bahia!